BENÍ MOURA

A arte de Bení Moura é incômoda – “povera”. Seus objetos são o resultado da busca arqueológica da regionalidade na construção do monumento à dignidade do colo, do cultus, da própria origem da cultura. Neles o símbolo impõe-se com rudeza, para provocar as sensações táteis e revelar aos poucos o requinte das cores da terra em luminosidade raras sobre a aspereza da textura. Ao captar o olhar nas dobras e nos vãos do suporte esgarçado, o símbolo prende o espectador na armadilha do seu próprio duplo ancestral – o homem feito de barro. Quanto ao sopro de vida, corre pôr conta e risco de cada um.

Mariza Bertoli
Conselheira da Sociedade Científica de Estudos da Arte

DESFAZER-SE

Exposição DESFAZER-SE
Casa João Turin
09 de julho a 06 de setembro de 2009
Rua Mateus Leme, 38 Centro Histórico – Curitiba – PR





OBRA

Desfazer-se
Terra, madeira, tecido e cola
100x190cm

7 VIRTUDES

Exposição - 7 VIRTUDES
De 06 de junho a 30 de julho 2006
Memorial de Curitiba, Salão Paranaguá
Rua: Claudino dos Santos, 79 Largo da Ordem, Curitiba – Paraná



SETE VIRTUDES

Na mata de Paranaguá
além da luz, do verde,
do mistério miscigenado de culturas
nativas e exóticas,
há lá um jeito de rezar,
que é como fazer carnaval;
um jeito próprio,
com cores de sonho
com as coisas da terra.
Dessa densa mistura,
sonho/terra
tem o Tempo.
Sábio observador
que a todos orienta
Tempo.
tempo,
Temporão
cuja compreensão pacífica do mundo,
das gentes e dos atos
que perdoa e releva,
que se interliga
“As Sete Virtudes”
que André Serafim e Bení Moura
apresentam,
manifestam estes sentimentos
de saudável contraste.
Enquanto André
com seus estandartes religiosos
em que neles, o rigor pragmático das coisas da fé,
cujas formas, cores e liturgias
são únicas e próprias
Bení expressas plasticidade.
Suas Virtudes são mágicas,
seus movimentos levados pela crença
na maturidade e ética
na intimidade
do trato com o material,
extraído da terra generosa.
E assim, bêbados de verdades e luz
os dois artistas se renovam
surpreendem.
Esteticamente ousados
sinceros
cujo valores maiores
é o trabalho, a observação, a persistência
e o resultado agora
desfrutamos.

João Henrique Amaral
Maio de 2006


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OBRAS

Temperança
Terra, cola, tecido e ferro
1,60 x 0,93 x 0,37cm

Detalhe da Obra Temperança

Prudência
Terra, cola, tecido e ferro
180 x 0,90 cm

Detalhe da Obra Prudência

Justiça
Terra, cola, tecido e ferro
1,90 x 0,40 x 0,40cm

Detalhe da Obra Justiça

Fortaleza
Terra, cola, tecido e ferro
0,50 x 0,90 cm

Detalhe da Obra Fortaleza


Terra, cola, tecido e ferro
1,90 x 0,50 x 0,33cm

Detalhe da Obra Fé

Esperança
Terra, cola, tecido e ferro
1,94 x 0,31 x 0,31cm

Detalhe da Obra Esperança

Caridade
Terra, tecido, cola e ferro
1,90 x 0,32 x 0,39

Detalhe da Obra Caridade



PERCEPÇÃO E SUTILEZA

Exposição – PERCEPÇÃO E SUTILEZA
De 25 de agosto a 25 de setembro de 2000
Museu de Arte do Paraná
Rua – Kellers, 289 – Praça Prof. João Candido , Alto do São Francisco
Curitiba – Paraná



BENI MOURA, ANDRE SERAFIM, ANTONIO TEMPORÃO, três nomes, três referencias notáveis nas artes plásticas e na cultura. Nos três artistas divergem os caminhos rumo à magia de captar da realidade objetiva consonâncias identificadas com o subjetivismo de cada um. Ressalta, porém a mesma capacidade de penetrar nos mistérios ocultos do cotidiano e revelá-los através de um simbolismo, cujas transcendências surpreendem o observador pelo inesperado das formas, do material usado e das cores. Trabalhando, embora a contemporaneidade, os artistas mantém elos significativos como o medievalismo que emergem em sugestões sensíveis nas quais o místico e o carnal se fundem em belíssimas composições.

Ivone Marques
Agosto de 2000







Instalações
Tecido Sintético
350x400x400


Em resposta a aceitação obtida pela exposição Ordem Oculta de 1999 na Casa da Cultura Monsenhor Celso, em Paranaguá e que ora se apresenta na capital paulista, o grupo foi selecionado para esta nova mostra no Museu de Arte do Paraná. Entregues a febril pesquisa, os três artistas Bení Moura, Antonio Temporão e Andre Serafim, encontram o suporte ideal para suas proposições. Seja a transparência, a religiosidade ou a busca da forma pura, o grupo optou pela informação sugerida e atuando na sensibilidade do espectador.
...Filtros são como funcionam as obras de Bení Moura. A luz encontrou nas fibras do material escolhido, entre o papel e o tecido, o ideal para a claridade repousar nos olhos do espectador. Os finos fios de seda prata unem sutis, a sinuosa transparência. A delicadeza dos movimentos da imensa massa branca são languidas “pinturas de luz”, que despertam no espectador a irresistível vontade de envolver-se na instalação.

João Henrique do Amaral
Agosto de 2000

“A ORDEM OCULTA”

Exposição “A ORDEM OCULTA”
De 11 de junho a 04 de julho de 1999
Casa da Cultura Monsenhor Celso
Largo Monsenhor Celso, 23 Paranaguá – Paraná



Há no ar de Paranaguá um contínuo impulso para o novo, com inequívoca referência ao passado romântico, religioso, orgíaco e teatral. Desde a pintura contida, no entanto muito reveladora da alma parnanguara de Amélia de Assunção, passando pela poetisa exaltada de Fernando Amaro até as surpreendentes instalações de Raul Cruz na década de 80, a cidade viveu momentos de discreta, porém permanente inovação artística que esta exposição celebra.
Ao reunir os quatros artistas que ora se apresentam nesta coletiva, mais uma vez, a presença do insólito, do inesperado, do convite a reflexão. A ordem oculta.
A leveza dos suaves papéis que Bení Moura faz flutuar sobre a mesa histórica, esteio de sabedoria, transparece a luz encantadora do litoral. Erguida a instalação, nota-se que o enxugamento dos elementos operado na obra de Bení, contrastando com seu trabalho anterior, resulta em simplicidade eloqüente e em translúcida felicidade de criação. Se antes a artista retirava da terra seus mais angustiados mistérios, hoje é no ar que encontra o conhecimento original. E o ser humano como interesse primeiro.
Aliás, são aspectos da condição humana que André Serafim e Everton Duarte também observam e se envolvem.
Serafim toma da religiosidade, temerária em culpas, sedutora em seus ritos, comovente em sua fé, material poético para expressar anseios humanos onde se “vinga” dos achaques traidores do destino, com barrocos dourados-velhos e esplêndidos papéis, muito antigos. Eros e São Sebastião e Santa Tereza e todos os mártires, carnavalescos, comungam desta serena passionalidade e beata sensualidade.
Pela primeira vez expondo seu trabalho Everton Duarte já se mostra absolutamente seguro de sua “missão artística”. A compulsão criativa de profundo sentido místico e referendando acontecimentos mágicos de seu universo pessoal, feérico e eufórico, surgido enormes painéis que produzem permanentes sombras refletidas, remetendo a delicados ornamentos mouros.
Antonio Temporão apresenta aos expectadores a riqueza contida na busca de materiais. Como um catalogador de texturas obtidas dos mais variados elementos, sempre vindos da observação da natureza.
Com suas tantas peças, o artista compõe um grande mosaico cuja intenção principal é suscitar a curiosidade e sensações. Diferente de Krajcberg, em sua obra não há denúncia, há mistério e encantamento. Assim meio menino, que se solta das amarras do “agradar os outros” com soluções previsíveis da arte. Diverte-se e diverte observando nos outros as surpresas e as constatações de qual elemento vem aquele vermelho ou aquele brilho estranho mas cativante.
Concebida para a Casa da Cultura de Paranaguá a exposição A Ordem Oculta é uma viagem ao lendário, uma aproximação ao solo e a natureza, um espaço destinado ao dogma mas também a diversão.

João Henrique do Amaral
Curador da Mostra - 1999



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OBRAS


Papel arroz e cola

Papel arroz e cola

DEVORAR - TE

Exposição DEVORAR - TE
De 17 de outubro a 10 de novembro 2006
SESC – Paranaguá
Rua Dr. Roque Vernalha, 11 Paranaguá – Paraná


A obra Devorar-te é a reflexão de nós mesmos – alma, corpo, credo, sensível abstração da condição humana, onde existir é um ato de devorarmos cada instante com a voracidade do tempo – presente, veloz, fugaz.
Penso e existo; este, o convite da obra.

Detalhe da Obra Devoro

E é da terra, onde percorremos nossa jornada, o cenário de sua construção visual e sua poética da linguagem, é a pesquisa da artista e sua força comunicadora. Esculturas construídas, revestidas de terras, elaboradas pelo manuseio da matéria, pelo exercício do pensamento, é o convite à experimentação, à descoberta de possibilidades, para novos questionamentos.
O que me devora? O que eu devoro?
Os tons únicos – terras buscadas em várias localidades reforçam o espaço reflexivo da obra - cidade, tempo, vida.
E compõem a força do universo feminino e masculino do ser contado em cada objeto. São também simbologia da mulher – frágil e forte, doce e guerreira, mãe e amante – dualidade da alma feminina, e são questionamentos do ser, intrínsecos na história, respostas sem perguntas – onde o aprender é o labo diário do espírito e o escape do ser devorador.

Andre Serafim
Setembro de 2006

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Devorar-te
Terra, tecido, ferro e cola
200x0,80x0,25cm

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Devoro
Terra, ferro, tecido e cola
160x20x20cm

TONS DA TERRA

Exposição TONS DA TERRA
De 17 de setembro a 13 de outubro de 2004
Hall da Secretaria de Estado da Cultura
Rua Ébano Pereira, 240 Curitiba – Paraná


Paranaguá, cidade histórica paranaense, abriga em seu cerne, físico e psicológico, atavismo vibrante, de energia variadas, religiosas e/ou sensuais, de alegria espontânea e/ou melancolias suicidas.
Perto do mar; é banhada por um rio e o calor modorrento em grande parte do ano convida a entrar nas águas, pisar descalço na terra, usufruir do vento, quando este há. A comunhão permanente com o ambiente, se transforma em pequenas e grandes obras, expressão da força interior; constante e criadora de seus habitantes.
Reforço os nomes que citei em anterior texto (para a mostra Ordem Oculta – 1999) sobre os muitos criadores surgidos sob este clima emocional e cenário luxuriante: o músico e diplomata Brasílio Itiberê, a pintora Amélia Assunção os poetas Júlia da Costa e Fernando Amaro, Raul Cruz de memória recente, multimídia emblemático da Geração 80.
Na mostra ora apresentada ao público curitibano, a historiadora, produtora cultural e grata surpresa artística parnanguara, Bení Moura, apropria-se da terra-chão da cidade e esculpi totens, caixas de segredos e marcos.
Também mantêm permanente a declaração de sacerdócio em estado bruto à arte.
Filtrados por sensibilidade enternecedora, surgem desta massa de pó extraído da terra-mãe, referências das passagens humanas; seu nascimento puramente animal, sua estada na vida com suas precariedades e necessidades e seu desaparecimento, em pó, que produz o nascimento puramente animal...
O processo é extremamente feminino. Costura em finas hastes de arame, o suporte de sugeridas formas que insinuam Rainhas-Santas, úteros e marsúpios, mantos protetores e sarcófagos. “O pouco que resta do tudo” confidencia a artista.
As cores produzidas pela generosa terra-coração imprimem tons de outono, delicados apesar da aspereza.
A alma feminina manifesta-se também, enquanto manipula sua própria mítica, organizando telúrica – ícones e rituais de culturas perenes em caixas ancestrais.
Energizando a centelha mítica do pó em arte.
“Então o Senhor Deus formou o homem com o pó da terra” Gên.2.7

João Henrique do Amaral
Inverno de 2004
(Catálogo da Exposição, Tons da Terra , 2004)


Bení Moura nos homenageia com um trabalho novo calcado na realidade mais profunda do ser humano. Ao usar o barro como matéria para os objetos, demonstra a intenção de nos mergulhar no inconsciente para de lá emergimos na realidade da nossa origem, na fragilidade do nosso estar no mundo: “és pó e ao pó retornarás”, verdade bíblica que se confirma no mundo em torno de nós e se cristaliza com o avançar do tempo.

Ivone Marques
Inverno de 2004
(Catálogo da Exposição, Tons da Terra , 2004)


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OBRAS




Anjo
Tecido,terra,arame e cola
146x46x20

Feto
Tecido, terra, arame e cola
154x44x12

Manto
Tecido, terra, arame e cola
152x58x20

Sarcófago
Tecido, terra, arame e cola
119x54x21

ESPAÇO PARA FANTASIA

Exposição ESPAÇO PARA FANTASIA
De 04 a 19 de novembro 2003
SESC – Paranaguá
Rua Dr. Roque Vernalha, 11 Paranaguá – Paraná



Bení nos convida a levitar entre nuvens, cujas transparências nos sugerem um desligamento do materialismo do dia-a-dia e nos envolvem numa aura de sonho.
Mas a contemporaneidade assumida pela artista não a afasta do compromisso mantido com a vida. Pelo contrario; sua obra propõe uma pausa no caminhar cotidiano, abrindo espaço para a fantasia, razão primeira da criação de arte, cujas mensagens encantam os olhos e embalam a alma.
Prometendo o encontro do concreto com o abstrato; do real com o irreal, Bení nos proporciona momentos de interiorização onde resgatamos as alegrias infantis em que a imaginação flui liberta de amarras e preconceitos.

ENVOLVIMENTOS

Exposição ENVOLVIMENTOS
De 18 de abril de 1988
Galeria de Arte – Centro Cultural Brasil – Estados Unidos
Rua Amintas de Barros, 99 - Curitiba – Paraná




MOURA, Bení. Brinco brinda. 1988. Óleo s/ tela. 33x46 cm

A mulher e seus múltiplos envolvimentos, seus anseios às vezes tão distantes de sua realidade, eis o mundo que Bení Moura enfoca em seus trabalhos. Objetos do cotidiano doméstico, como prendedores de roupas, agulhas, brincos e pinças compartilham em suas telas espaços e conflitos com mulheres apáticas, que apenas deixam as coisas acontecerem. Há muita ousadia no uso da cor e há um certo mistério em suas composições, como alguns silêncios, que contêm palavras implícitas, ou como os momentos tensos, que antecipam as tempestades. Esta é a primeira individual de Bení Moura. Acompanho com interesse seu trabalho, que sério e pessoal, devera surpreender muito ainda.


Suzana Lobo


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