“A ORDEM OCULTA”

Exposição “A ORDEM OCULTA”
De 11 de junho a 04 de julho de 1999
Casa da Cultura Monsenhor Celso
Largo Monsenhor Celso, 23 Paranaguá – Paraná



Há no ar de Paranaguá um contínuo impulso para o novo, com inequívoca referência ao passado romântico, religioso, orgíaco e teatral. Desde a pintura contida, no entanto muito reveladora da alma parnanguara de Amélia de Assunção, passando pela poetisa exaltada de Fernando Amaro até as surpreendentes instalações de Raul Cruz na década de 80, a cidade viveu momentos de discreta, porém permanente inovação artística que esta exposição celebra.
Ao reunir os quatros artistas que ora se apresentam nesta coletiva, mais uma vez, a presença do insólito, do inesperado, do convite a reflexão. A ordem oculta.
A leveza dos suaves papéis que Bení Moura faz flutuar sobre a mesa histórica, esteio de sabedoria, transparece a luz encantadora do litoral. Erguida a instalação, nota-se que o enxugamento dos elementos operado na obra de Bení, contrastando com seu trabalho anterior, resulta em simplicidade eloqüente e em translúcida felicidade de criação. Se antes a artista retirava da terra seus mais angustiados mistérios, hoje é no ar que encontra o conhecimento original. E o ser humano como interesse primeiro.
Aliás, são aspectos da condição humana que André Serafim e Everton Duarte também observam e se envolvem.
Serafim toma da religiosidade, temerária em culpas, sedutora em seus ritos, comovente em sua fé, material poético para expressar anseios humanos onde se “vinga” dos achaques traidores do destino, com barrocos dourados-velhos e esplêndidos papéis, muito antigos. Eros e São Sebastião e Santa Tereza e todos os mártires, carnavalescos, comungam desta serena passionalidade e beata sensualidade.
Pela primeira vez expondo seu trabalho Everton Duarte já se mostra absolutamente seguro de sua “missão artística”. A compulsão criativa de profundo sentido místico e referendando acontecimentos mágicos de seu universo pessoal, feérico e eufórico, surgido enormes painéis que produzem permanentes sombras refletidas, remetendo a delicados ornamentos mouros.
Antonio Temporão apresenta aos expectadores a riqueza contida na busca de materiais. Como um catalogador de texturas obtidas dos mais variados elementos, sempre vindos da observação da natureza.
Com suas tantas peças, o artista compõe um grande mosaico cuja intenção principal é suscitar a curiosidade e sensações. Diferente de Krajcberg, em sua obra não há denúncia, há mistério e encantamento. Assim meio menino, que se solta das amarras do “agradar os outros” com soluções previsíveis da arte. Diverte-se e diverte observando nos outros as surpresas e as constatações de qual elemento vem aquele vermelho ou aquele brilho estranho mas cativante.
Concebida para a Casa da Cultura de Paranaguá a exposição A Ordem Oculta é uma viagem ao lendário, uma aproximação ao solo e a natureza, um espaço destinado ao dogma mas também a diversão.

João Henrique do Amaral
Curador da Mostra - 1999



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OBRAS


Papel arroz e cola

Papel arroz e cola