TONS DA TERRA

Exposição TONS DA TERRA
De 17 de setembro a 13 de outubro de 2004
Hall da Secretaria de Estado da Cultura
Rua Ébano Pereira, 240 Curitiba – Paraná


Paranaguá, cidade histórica paranaense, abriga em seu cerne, físico e psicológico, atavismo vibrante, de energia variadas, religiosas e/ou sensuais, de alegria espontânea e/ou melancolias suicidas.
Perto do mar; é banhada por um rio e o calor modorrento em grande parte do ano convida a entrar nas águas, pisar descalço na terra, usufruir do vento, quando este há. A comunhão permanente com o ambiente, se transforma em pequenas e grandes obras, expressão da força interior; constante e criadora de seus habitantes.
Reforço os nomes que citei em anterior texto (para a mostra Ordem Oculta – 1999) sobre os muitos criadores surgidos sob este clima emocional e cenário luxuriante: o músico e diplomata Brasílio Itiberê, a pintora Amélia Assunção os poetas Júlia da Costa e Fernando Amaro, Raul Cruz de memória recente, multimídia emblemático da Geração 80.
Na mostra ora apresentada ao público curitibano, a historiadora, produtora cultural e grata surpresa artística parnanguara, Bení Moura, apropria-se da terra-chão da cidade e esculpi totens, caixas de segredos e marcos.
Também mantêm permanente a declaração de sacerdócio em estado bruto à arte.
Filtrados por sensibilidade enternecedora, surgem desta massa de pó extraído da terra-mãe, referências das passagens humanas; seu nascimento puramente animal, sua estada na vida com suas precariedades e necessidades e seu desaparecimento, em pó, que produz o nascimento puramente animal...
O processo é extremamente feminino. Costura em finas hastes de arame, o suporte de sugeridas formas que insinuam Rainhas-Santas, úteros e marsúpios, mantos protetores e sarcófagos. “O pouco que resta do tudo” confidencia a artista.
As cores produzidas pela generosa terra-coração imprimem tons de outono, delicados apesar da aspereza.
A alma feminina manifesta-se também, enquanto manipula sua própria mítica, organizando telúrica – ícones e rituais de culturas perenes em caixas ancestrais.
Energizando a centelha mítica do pó em arte.
“Então o Senhor Deus formou o homem com o pó da terra” Gên.2.7

João Henrique do Amaral
Inverno de 2004
(Catálogo da Exposição, Tons da Terra , 2004)


Bení Moura nos homenageia com um trabalho novo calcado na realidade mais profunda do ser humano. Ao usar o barro como matéria para os objetos, demonstra a intenção de nos mergulhar no inconsciente para de lá emergimos na realidade da nossa origem, na fragilidade do nosso estar no mundo: “és pó e ao pó retornarás”, verdade bíblica que se confirma no mundo em torno de nós e se cristaliza com o avançar do tempo.

Ivone Marques
Inverno de 2004
(Catálogo da Exposição, Tons da Terra , 2004)


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OBRAS




Anjo
Tecido,terra,arame e cola
146x46x20

Feto
Tecido, terra, arame e cola
154x44x12

Manto
Tecido, terra, arame e cola
152x58x20

Sarcófago
Tecido, terra, arame e cola
119x54x21